domingo, 16 de novembro de 2014

Álvaro de Campos - características

Álvaro de Campos

·    Poeta sensacionista e escandaloso;
·    Homem da indústria e da técnica;
·    Histerismo, euforia, carga dinâmica, torrente nervosa;
·    Megalómano e intervencionista;
·    “Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas/Quanto mais personalidade eu tiver.../Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for...”;
·    «Filho indisciplinado da sensação» (segundo Ricardo Reis);
·    3 fases: fase decadentista; fase do futurismo whitmaniano; fase independente/niilista/pessimista;

·    Fase decadentista:
·    Poema “Opiário” - viagem ao Oriente; dedicado a Mário de Sá-Carneiro;
·    “Opiário” - ponto máximo de destruição da personalidade do sujeito;
·    Sentimento decadente de tédio e enjoo da vida levado até ao limite, destruído interiormente;
·    Imitação de Sá-Carneiro “desde a nostalgia do além, a morbidez snob de um saturado da civilização, a embriaguez do ópio e dos sonhos dum Oriente que não há, o horror à vida, o realismo satírico de certas notações, até ao vocabulário entre preciso e vulgar, até às imagens, aos símbolos, ao estilo confessional, brusco, animado e divagativo, até ao ritmo dos decassílabos agrupados em quadras”(Jacinto Prado Coelho);
·    Fatalismo cego e evasão através do ópio e da morfina – não sabe como reagir de outro modo;
·    Marginaliza-se e não encontra no mundo nada que lhe interesse;
·    Resta-lhe “fumar a vida”, ou seja, desejar a morte, já que a vida não passa de uma realidade para transformar em nada.
·    Fase do futurismo whitmaniano:
·    Influência de Whitman;
·    Idealização poética industrial;
·    Novo homem - homem sem moral e sem sensibilidade, homem a dominar o mundo com as mãos agarradas ao automóvel, ao paquete, ao avião, à máquina – o super-homem industrializado.
·    Dominado pelo dinâmico e pelo forte;
·    Poema “Ode Triunfal”:
·    Celebração das rodas, engrenagens, correias de transmissão, êmbolos, ou seja, a máquina no seu todo, a sua força e a sua capacidade de transformar e impulsionar a indústria, o comércio, os transportes, a agricultura.
·    Desfile simultaneamente glorificante e perplexo da técnica e do consumismo civilizacional que o poeta ama e em que se despersonaliza;
·    “Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!/Ser completo como uma máquina!.../Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,/Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes –/Possuo-vos como uma mulher bela,/Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama/Que se encontra casualmente e que se acha interessantíssima”;
·    Presença da máquina - contacto quase sensual, idêntico ao que os românticos experimentavam frente à Natureza.
·    Máquina como um prolongamento do braço humano, força mágica com que o indivíduo consegue ultrapassar as limitações da sua condição humana.
·    Domínio estético da energia e do movimento que caracterizam a paisagem urbana de uma grande cidade.
·    Glorificação da técnica e esta integração sujeito-coisas, com o endeusamento da cidade, da mecânica e da engenharia - principal conteúdo da “Ode Triunfal”;
·    «Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,/Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto/E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)/E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!/Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!»;
·    «Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!»
·    Exposição não só dos elogios à industrialização, mas também dos seus aspectos negativos;
·    Adjetivação antitética e paradoxal que lhe reveste a linguagem - “A maravilhosa beleza das corrupções políticas/[...]e outro sol novo no Horizonte!”;
·    Outros temas: o amor a uma personalidade hipertrofiada; a solidariedade entre os homens, desde o santo à prostituta e desde o salteador ao burguês; a força hercúlea; a pirataria; a energia mecânica; o progresso técnico; tudo o que contribui para dar ao homem uma nova dimensão e libertá-lo;
·    Fase independente/niilista/pessimista:
·    Homem destroçado, desfeito, abatido, desconsolado e descontente com tudo;
·    Poeta do cepticismo, da abulia perante o absurdo, da auto-análise, do cansaço e da frustração, muito próximo de Pessoa ortónimo;
·    Nítida evolução;
·    Fase em que se revela um poeta bem mais humano do que nas fases anteriores;
·    «Nada me prende a nada»;
·    «Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido»;
·    «O que há em mim é sobretudo cansaço».
·    «Não me venham com conclusões!/A única conclusão é morrer.»
·    Gerais:
·    Álvaro de Campos como uma espécie de alter ego de Fernando Pessoa (segundo António Tabucchi);
·    Sensacionismo irreverente;
·    Intensa atividade, sobretudo no período em que Fernando Pessoa se entregou mais devotamente ao esoterismo;
·    Ora se desmancha em descargas impetuosas, torrenciais, em velocidade olímpica, ora é arrastado pelo tédio da vida, fica a boiar de cansaço: “Eu, eu mesmo.../Eu, cheio de todos os cansaços/Quantos o mundo pode dar.”;
·    Alberto Caeiro é o seu Mestre e Álvaro de Campos pergunta-lhe: “...porque é que ensinaste a clareza da vista,/se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?/Porque é que me chamaste para o alto dos montes/Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?/.../Porque é que me acordaste para a sensação e a nova alma,/Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?”;
·    Ânsia de sensações - constante evasão no tempo e no espaço;
·    Necessidade de se evadir no tempo e no espaço para corresponder à ânsia de superar as limitações de uma vida pacífica, sentada, estática, regrada e revista – é significativamente expressa nas quiméricas viagens e nos desejos desbordantes e imaginados que pululam na “Ode Marítima”;
·    Insatisfação e extravasão de sensações - tedium vitae – o tédio da vida – “O tédio que chega a constituir nossos ossos encharcou-me o ser”, a sensação angustiosa do vazio: “Estou só, só como ninguém ainda esteve,/oco dentro de mim, sem depois nem antes”, e a frustração “O que eu queria ser, e nunca serei, estraga-me as ruas”;
·    Binómio sentir/pensar - “O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual...” que lhe dá “A capacidade de pensar o que sinto, que me distingue do homem vulgar/Mais do que ele se distingue do macaco”, embora diga “viver as coisas pelo lado das sensações”;
·    Binómio tudo/nada reflete uma faceta do “eu” pessoano, o poeta dos extremos, insatisfeito, fracassado nos seus anseios em que tudo irrealizado o marca com o vazio do nada - “ Não sou nada./Nunca serei nada./.../À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo” e ainda “Ter pensado o Tudo/É o ter chegado deliberadamente a nada”;

·    Passado como um refúgio, uma vez que o presente é caracterizado pelo tédio e pelo cansaço, evadindo-se no tempo a recordar vagamente “A pobre velha casa da minha infância perdida!”. Também patente ao nível do espaço “Ah, seja como for, seja por onde for, partir!/Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar, ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstracta...”

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