domingo, 16 de novembro de 2014

Alberto Caeiro - Características

Alberto Caeiro
  •  Mestre de Pessoa ortónimo e dos outros heterónimos, Caeiro dá primazia ao sentido da visão, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando a observar o mundo (deambulação), personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
  •  Poeta do real objetivo - vê de forma objetiva e natural a realidade;
  •  «Guardador de rebanhos» - pensa através das sensações;
  •  Pastor por metáfora - «Minha alma é como um pastor»;
  • Recusa do pensamento metafísico - «Pensar [metafisicamente] é não compreender»;
  •  Simplicidade, inocência e constante novidade das coisas;
  • Captação da realidade imediata através daquilo que as sensações lhe oferecem - «A sensação é a única realidade para nós»;
  • «Creio no mundo como num malmequer,/Porque o vejo. Mas não penso nele»;
  •  Religião sensacionista – Paganismo: paganismo vivido, não pensado;
  • Doutrina orientada para a objetividade, para o conhecimento intuitivo da Natureza;
  • Saudação ao breve e transitório, pois na Natureza tudo muda;
  • Poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo. Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo; por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
  • «Pensar incomoda como andar à chuva» - libertação de todos os modelos ideológicos, culturais ou outros de modo a poder ver a realidade concreta, uma vez que «As coisas não têm significado: têm existência»;
  • «Os meus pensamentos são todos sensações»;
  • Sentido das coisas - percepção da cor, da forma e da existência;
  • «O único sentido oculto das coisas/É elas não terem sentido oculto nenhum»;
  • «Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…»;
  • Deambulismo - Contemplação simples das coisas - apreensão do espetáculo da variedade do mundo;
  • Poeta da Natureza e do olhar, da simplicidade completa, da clareza total e da objetividade das sensações;
  • Desejo de integração e de comunhão com a natureza;
  • Sentido primordial – visão, em detrimento do pensamento - Pensa sentindo, já que «pensar é estar doente dos olhos»;
  • Poesia sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à perceção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objetos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poética (atitude anti-lírica), mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento;
  • Temáticas frequentes: panteísmo sensual (doutrina metafísica segundo a qual Deus e o mundo formam uma unidade, Deus é imanente ao mundo, não distinto deste. Tendência para considerar a natureza como um ser divino, dotado de uma unidade vital e dinâmica); recusa do pensamento e da metafísica;
  • Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afeta Pessoa ortónimo. Canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado;
  • Aurea mediocritas horaciana (o refúgio na vida rústica constitui a condição privilegiada para a fruição moderada dos prazeres do quotidiano);
  • «Alberto Caeiro parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura acumulada ao longo dos séculos.»;
  • Simplicidade no estilo, aparente despreocupação com a organização sintáctica, uso de vocabulário simples, ritmos de acordo com a espontaneidade e o versilibrismo (verso livre que se reflete na mancha irregular do poema);
  • Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
  • Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo (proximidade da linguagem do falar quotidiano, fluente, simples e natural);
  • Ausência de rima;
  • Pouca subordinação e pronominalização;
  • Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção, de comparações simples e expressivas (para demonstrar a tendência ou a busca da objectividade);
  • Ausência de preocupações estilísticas;
  • Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento, mas espontâneo;
  • Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: (dando uma impressão de pobreza lexical) pouca adjetivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (ações ocasionais)   ou no gerúndio. (sugerindo simultaneidade e o fluir das sensações).

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